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Brent, 20 anos.
Enquanto a neve caía do lado de
fora da janela, eu pensava.
As luzes eram brilhantes, coloridas.
Eu ouvia canções de natal e me
esquentava com o calor da lareira.
Ouvia o crepitar da lenha
queimando, bebia algo quente que minha avó preparava.
Todo natal na casa dela era
silencioso, e eu sinto saudades.
O cheiro dos biscoitos recém saídos
do forno ganhava a casa inteira.
Assistíamos então os especiais de
Natal na TV.
Eu era apenas uma criança.
Em outros Natais eu saía com meus
amigos.
Patinava na pista que havia em meu
bairro.
Lembro que naquela pista, numa
véspera de Natal, dei meu primeiro beijo.
Já naquele tempo eu conhecia a
Tampinha.
E já sentia-me ligado a ela.
Lembranças distantes da minha
realidade atual.
Ainda é o mesmo Natal. As mesmas
festas, os desejos, a ceia.
Ainda posso sentir o cheiro dos
biscoitos, e o crepitar da lareira.
O vento frio, os sinos do coral de
crianças que visitava as casas.
Os especiais da TV ainda são os
mesmos, só minha companhia me falta.
O sorriso de minha avó, com sua
delicadeza idosa, desapareceu.
Mas não de minha memória.
Eu ainda posso ver, em meus sonhos,
a neve rodopiando pelo ar, do lado de fora da janela.
E as noites escuras ainda estão
iluminadas pelas luzes coloridas, que enfeitam as casas.
Era com ela que eu gostava de
montar a árvore de natal.
No meio da sala, com as caixas de
presentes no chão.
Cada pingente representava uma
lembrança dela, coisas que ela guardava através dos anos.
Colecionava bolas coloridas, anjos
de porcelana, estrelas brilhantes.
Ela dizia que cada peça ali
guardava uma de suas memórias.
Algumas eram presentes de pessoas
de seu passado, outras ela mesma havia comprado em lojas de departamentos.
Nós montávamos os pingentes e
colocávamos sobre os galhos.
Era uma tradição que mantivemos
enquanto ela foi viva.
Eu a mantenho viva em cada pingente
que vejo, em cada árvore de Natal que observo.
De shoppings, à casas de amigos.
Ela viverá enquanto a tradição
persistir.
Como por último, eu criei uma
lição, para que sua memória se preserve em ensinamento.
Nada que ela tenha me dito, mas que
eu mesmo digo.
A árvore de Natal é como sua vida,
e cada galho é como um momento dela. Os pingentes são nossas escolhas, que
criam nossa história. Um passado intensamente vivido significa mais pingentes
para adornar sua árvore, e quanto mais bonito o pingente, mais bonita será a
árvore, no fim.
B. Carter.