O dia em que Tudo mudou.


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Sara, 12 anos.


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Sabe aqueles dias que você acorda e sabe que algo muito especial vai mudar sua vida para sempre? É, querido amigo diário, hoje foi um desses dias. Certo, vou fazer primeiro um resumo, depois eu te conto O acontecimento. Vamos ver por onde eu começo... Ah sim, pelo começo. rsrs. Logo no café da manhã aquele pirralho do João deixou um sapo na porta do meu quarto achando que eu ia ter medo. Coitado, encontrou o bichinho dentro do copo de leite dele. Ha ha. Bem feito. Só quem não gostou da vingança foi minha mãe, que me obrigou de novo a ver o treino de vôlei. Ela quer porque quer que eu jogue com Patrícia e companhia.

Eu não vou, nem mortinha da Silva.

Enfim, quando cheguei à escola, Lúcia me falou que teríamos teste surpresa de ciências. Eu não tinha estudado nada, mas fui com a cara e a coragem, e espero ter tirado uma boa nota. Depois fomos lanchar, e a fila da cantina estava enorme. E por isso eu achei que minha sorte hoje estava naqueles dias de depressão, estilo tarde de domingo. Só que não. Quando meu pai foi me buscar na escola, depois do meio dia, me avisou que iríamos almoçar na casa de Tio Carlos. Eu não queria, queria ir pra casa, onde estaria segura da minha má sorte, mas ele insistiu, e disse que eu poderia ficar com Brent, porque ele havia acabado de chegar dos Estados Unidos.

Quando ele mencionou isso, eu me senti melhor. Brent era mal encarado, mas sempre jogava video game comigo, e colocava filmes de terror pra gente ver. A tarde não seria tão chata. Poderíamos jogar cartas, ou qualquer coisa. Mas quando chegamos à casa de tio Carlos, Diário, preciso te dizer, ACONTECEU UMA COISA INCRÍVEL.

Quando desci do carro, vi meu primo mais velho, que constantemente me chama de pirralha, de priminha, e que puxa meu cabelo. Ele costuma me irritar, e fica me provocando, cutucando, e arrota perto de mim porque sabe que eu fico maluca. Ele ri quando eu começo a brigar, mas no final ele sempre me trata como se fosse meu pai. Mas hoje, Diário, HOJE, ele estava conversando com um amigo do lado de fora de casa, jogando uma bola na parede e pegando-a. Acho que era bola de basquete.

Ele riu, e parou de jogar a bola quando nós entramos pelo portão da casa dele. Levantou-se e foi falar com meu pai. O jeito como ele sorria, e como falava, e seus gestos, de repente, me deixaram estranha. Eu não consegui me comportar como fazia sempre, não conseguia me mexer, e sorria boba o tempo inteiro. Me perguntei o que estava acontecendo comigo, e fiquei nervosa quando ele olhou pra mim. Fiquei vermelha, eu tenho certeza.

AI QUE MICO.

Ele bagunçou meu cabelo e meu coração quase saiu pela boca, fez uma piadinha e me chamou de priminha, e eu quase derreti completamente, ao invés de ignorá-lo, como sempre fazia. Até que ele me olhou estranho e disse:

"-Tá doente, Sarinha?"

Eu fiz que não com a cabeça e saí quase correndo atrás do Brent. Diário, até o Brent percebeu que eu estava estranha, e me perguntou alguma coisa, que eu não entendi direito... O português dele é tão enrolado que a gente tem que se comunicar por mímica. Às vezes eu fico olhando pra ele pra saber o que ele está tentando me dizer. É mais fácil que falar com ele. Haha, ele até me ensinou palavrões em inglês. Ele fica dizendo quando estamos jogando e eu ganho pra ele. Eu sempre ganho... Hum... Isso é estranho, porque tenho a impressão de que ele joga melhor que eu, mas no fim eu me dou melhor. Depois vou perguntar pra ele porque ele amarela sempre.

Enfim, Diário, depois da tarde inteira fugindo do Rodrigo, meu primo mais velho, ele conseguiu me pegar. Entrou no quarto de Brent e me carregou nos braços até o andar de baixo da casa dele. Eu ria e me contorcia, tentando me soltar, mas aquela sensação estranha ainda rondava, e só quando ele me colocou no chão e eu olhei pra cima, foi que entendi. Igual aquelas meninas das novelas, eu estava APAIXONADA.

Não sei se fico feliz ou triste, Diário. Ele é tão mais velho que eu que eu nem imagino que um dia consiga dizer o que sinto. Que droga, queria ter a idade do Brent, então já teria 16 anos e seria mais fácil.

Mas, um dia... Um dia eu terei 16, ou melhor, 17. E quando esse dia chegar, eu vou dizer a ele.

Sara.


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